quarta-feira, 18 de maio de 2011

O CRISTO DE MARFIM, A CULPA E O CÉU DE CADA UM


foto: Maira Lins
RIMBAUD - Sua mulher implica porque eu agora ando com este Cristo de marfim...
VERLAINE – Porque esse Cristo foi da avó dela, só isso...
RIMBAUD - Não. Ela me acusou. Disse que eu tirei o Cristo da parede. Da parede junto à cama de vocês. Que eu mutilei esse cristo de marfim e saí com ele por aí... Que andei com o Cristo a noite inteira... Entrando em cervejarias... Mostrando o Cristo às putas, enquanto me divertia com elas. 

Na época destes poetas era comum usarem objetos de marfim: pentes, adornos, suportes e esculturas diversas. Rimbaud poderia ter pegado qualquer um desses. Entretanto, o escolhido foi justamente um Cristo. 

A primeira coisa que aparece é o ato de irreverência do jovem poeta. É claro, mas não suficiente para um simbolista. É mais do que isto. O gesto de retirar o Cristo da parede junto à cama traz o símbolo universal do crucificado para perto, para as mãos, para os lugares comuns: as pessoas, as cervejarias, o prazer pago. Na aparente profanação adolescente há o gesto que aproxima e irmana o divino, que questiona o conceito de pecado e autoriza o humano a ser filho de Deus incluindo todas as suas perfeitas imperfeições. 

Um Cristo de marfim precioso, mas preso. Rimbaud levou o Cristo aos bares. Levou ao lugar onde estavam as pessoas - os filhos de Deus -, com fome de um amor impossível de caber apenas sobre uma cama entre quatro paredes. 

O SARAU DE IDEIAS de Pólvora e Poesia desta sexta, dia 20, vai falar “do que não se fala” – que é a culpa sob a ótica da religião. Depois do espetáculo (que começa às 20 horas) teremos a presença de representantes de diferentes religiões que debaterão sobre o conceito de CULPA e PECADO à luz da filosofia religiosa que praticam. 

RIMBAUD – Estou como o campo entregue ao olvido, crescido e florido de joios, resinas, ao bordão selvagem das moscas imundas.

Em tempos de “humanidade desumanizada”, é fundamental lembrar a importância da semeadura. Afinal, orquídeas nascem sobre pedras. 

Venha debater com a gente o próximo Sarau de Ideias!

Nenhum comentário:

Postar um comentário