quarta-feira, 25 de maio de 2011

SIMBOLOGIA DOS ELEMENTOS - SÉRIE 4

A MESA – UM VÓRTICE



Todo início de espetáculo é a mesma coisa: o público é tomado por intenso impacto quando a mesa que se estende entre Rimbaud e Verlaine deixa seu estado linear e quebra. Ela rompe com o esperado, como pré-visto e o ponto de união entre suas partes não convida a platéia às sensações expansivas de um vértice. Ali se instala uma intimação a conhecer os redemoinhos, os furacões, a alma das voragens e dos turbilhões. Ali se instala a presença de um vórtice.
Um vórtice é um escoadouro. Ele surge devido a diferença de pressão entre duas regiões vizinhas. No nosso caso, os dois poetas e suas vidas pessoais. Vórtices são encontrados nos mais diversos locais da natureza, desde as complexas correntes circulares de água vindas de marés conflitantes, até quando observamos a água escorrer pelo ralo da pia formando aquela espiral que arrasta tudo com ela. O átomo, por exemplo, é um vórtice. Em aeronáutica chamaríamos de “arrastamento induzido”, a este efeito.
Em Pólvora e Poesia, a instalação do vórtice logo no início do espetáculo propõe-se a arrastar a platéia através de um redemoinho de emoções. Contam, a nosso favor, as leis naturais que atribuem aos vórtices, enquanto signos, a capacidade de atrair tudo que existe no Universo, sejam estes elementos pessoas, coisas, eventos, pensamentos ou ondas. Misturados, formarão algo novo, até então desconhecido. Ali, no encontro entre as linhas que vêm do infinito (ou alguém acha que a mesa termina ali, na cabeceira?), todos os desejos são recebidos, sem distinção, todas as pessoas estão autorizadas a ser, ter e fazer tudo que realmente desejam.
O ar pasmo da platéia quando deixa o local do espetáculo deixa claro que todos foram sugados por uma espiral e que, na tontura do seu giro sem freios, quase nada permanece no mesmo lugar.
Uma dica: abandone-se. O melhor de tudo não é saber onde vai chegar. É estar livre para viver o efeito da vertigem.                                        

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