Fernando, (reproduzindo aqui o que te mandei como recado)
Os dois atores de Pólvora e Poesia são muito competentes, a direção, preparação de ator e sonoplastia (apenas um guitarrista) são evidentes na proposta de síntese, que dá um ar bem cool e tratamento contemporâneo a um texto que facilmente se tornaria piegas na mão de um desavisado. A paixão exacerbada de Rimbaud e Verlaine ganha tratamento equiparado ao que é dado à instabilidade emocional que ela causa nos dois (não há momentos melosos, óbvio, e a nudez, quando acontece, é bonita e constitutiva do argumento). O cenário e figurino também seguem a regra do "menos é mais". Nota-se um amadurecimento maior no ator que interpreta Verlaine, que consegue inclusive dar a entonação precisa nas raríssimas vezes em que suas falas apontam para um humor cáustico (estamos falando de talvez dois ou três momentos). O Rimbaud traz uma respiração e dicção perfeitas, e uma entrega e disposição físicas notáveis ao devaneio do personagem. A movimentação cênica sobre o cenário de madeira, no centro da antiga Igreja da Barroquinha, sempre no ritmo célere do coração dos personagens, às vezes deixa na gente a preocupação sobre se eles não vão se ferir. Mas inclusive isso parece ser intencional. O uso do espaço exíguo demonstra uma grande habilidade da direção, que consegue manipular tempo e espaço, subjetivo e objetivo,como se fosse apenas a toques preciosos de guitarra e truques de iluminação. Belo trabalho de equipe que vai representar bem o "teatro baiano" por aí.
Uma mesa gigante. Um banquete para o público, que com fartura, é servido de poesia, paixão, beleza, emoções, teatro, loucura e genialidade. Uma arena típica com 2 leões vorazes, armados de poros, socos, beijos e versos, degladiando-se numa luta onde o vencedor é o escracho dos mais francos e livres instintos humanos.
Enquanto os corpos dos personagens se chocam na madeira, vai desaparecendo a minha lembrança de respirar, numa busca cega e irracional do meu coração pelo ritmo da emoções de Arthur Rimbaud e Paul Verleine. Sinto-os como canções de rock'n roll, pulsantes, tocadas por Juracy Doamor (Beef), mas materializadas com louvor por Talis Castro e Caio Rodrigo, sob a regência primorosa de Fernando Guerreiro e Hilda Nascimento.
É impossível não ser tocado pela poesia visceral do texto, pelas marcas sutis e a grandeza criativa da direção, pela iluminação sagaz e homogênea ao tempo, pelo impacto literal do cenário, pelo trabalho arrebatador dos atores e seus corpos...E mais, bem mais, é impossível setorizar esse espetáculo, ele tem tanta UNIDADE que lembrar de técnica quando muitas vezes esquecemos do ar é, no mínimo, cruel, só que consigo mesmo.
"Pólvora e Poesia" me arranca uma emoção explosiva de agradecimento a arte e suas carícias. Lancei-me neste barco num mar de anseios e inquietações, rumo a respostas averbais, que fazem jugo desigual a uma vida requentada.
"Ah! que esta quilha rompa! Ah! que me engula o oceano!"
Fernando,
ResponderExcluir(reproduzindo aqui o que te mandei como recado)
Os dois atores de Pólvora e Poesia são muito competentes, a direção, preparação de ator e sonoplastia (apenas um guitarrista) são evidentes na proposta de síntese, que dá um ar bem cool e tratamento contemporâneo a um texto que facilmente se tornaria piegas na mão de um desavisado.
A paixão exacerbada de Rimbaud e Verlaine ganha tratamento equiparado ao que é dado à instabilidade emocional que ela causa nos dois (não há momentos melosos, óbvio, e a nudez, quando acontece, é bonita e constitutiva do argumento).
O cenário e figurino também seguem a regra do "menos é mais". Nota-se um amadurecimento maior no ator que interpreta Verlaine, que consegue inclusive dar a entonação precisa nas raríssimas vezes em que suas falas apontam para um humor cáustico (estamos falando de talvez dois ou três momentos).
O Rimbaud traz uma respiração e dicção perfeitas, e uma entrega e disposição físicas notáveis ao devaneio do personagem. A movimentação cênica sobre o cenário de madeira, no centro da antiga Igreja da Barroquinha, sempre no ritmo célere do coração dos personagens, às vezes deixa na gente a preocupação sobre se eles não vão se ferir.
Mas inclusive isso parece ser intencional. O uso do espaço exíguo demonstra uma grande habilidade da direção, que consegue manipular tempo e espaço, subjetivo e objetivo,como se fosse apenas a toques preciosos de guitarra e truques de iluminação. Belo trabalho de equipe que vai representar bem o "teatro baiano" por aí.
Uma mesa gigante.
ResponderExcluirUm banquete para o público, que com fartura, é servido de poesia, paixão, beleza, emoções, teatro, loucura e genialidade. Uma arena típica com 2 leões vorazes, armados de poros, socos, beijos e versos, degladiando-se numa luta onde o vencedor é o escracho dos mais francos e livres instintos humanos.
Enquanto os corpos dos personagens se chocam na madeira, vai desaparecendo a minha lembrança de respirar, numa busca cega e irracional do meu coração pelo ritmo da emoções de Arthur Rimbaud e Paul Verleine.
Sinto-os como canções de rock'n roll, pulsantes, tocadas por Juracy Doamor (Beef), mas materializadas com louvor por Talis Castro e Caio Rodrigo, sob a regência primorosa de Fernando Guerreiro e Hilda Nascimento.
É impossível não ser tocado pela poesia visceral do texto, pelas marcas sutis e a grandeza criativa da direção, pela iluminação sagaz e homogênea ao tempo, pelo impacto literal do cenário, pelo trabalho arrebatador dos atores e seus corpos...E mais, bem mais, é impossível setorizar esse espetáculo, ele tem tanta UNIDADE que lembrar de técnica quando muitas vezes esquecemos do ar é, no mínimo, cruel, só que consigo mesmo.
"Pólvora e Poesia" me arranca uma emoção explosiva de agradecimento a arte e suas carícias. Lancei-me neste barco num mar de anseios e inquietações, rumo a respostas averbais, que fazem jugo desigual a uma vida requentada.
"Ah! que esta quilha rompa!
Ah! que me engula o oceano!"
Obrigada
Maira Lins